segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Mais um poema

Pés descalços

Tira já o pé do chão frio
Como minh'alma
O piso gelado vai te deixar doente
Como minh'alma
Os dedos entumecidos, dormentes
Como minh'alma

Sorriso travesso, olhar maroto
Só tem três anos e já sabe tanto
Esperta, teima em desobedecer
E ser feliz até no pranto

Quero ser livre como ela
Destemida, irresponsável,
sem abrigo
E não consigo
Os anos me estragaram
O melhor de mim levaram
Minha espontaneidade
E ousadia
O fogo que em mim ardia
Na minha melhor de idade

Volta aqui!
Ela, eu, enfim
Onde está a menininha
que habitava em mim?

Quero ver as duas lado a lado
Mãe e filha
De três anos, sem calçados
Correndo pelo piso frio
e pela vida
Sem medo de ser feliz
Mais atrevida

Azar do nariz entupido
"?que más dá?"
Que fique trancado
Como minh'alma
Deixe a guria dançar

28.06.2006

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Outros poemas

Como disseste que viria

Quando te vi pela primeira vez
Senti o impacto que em mim se fez
Meu chão, até então seguro e firme
Começou a tremer, hora de ir-me

Fugir não era minha intenção
Mas era meu instinto que gritava
Queria evitar outra decepção
Corre agora, vai-te embora, avisava

Mas aí, li as tuas poesias
Que dizem tudo o que penso
E que vou pensar um dia
Quando vi já era tarde
Prá consumar a minha covardia
Mas não lamento…
Fico! Mesmo sem consenso
Entre o que quero e o que acho que devia

Dias depois - e não por força do destino
Passei a noite te ouvindo falar
Com o entusiasmo de um menino
Não conseguia me afastar
Completamente boba, babando por ti
Tentando em vão disfarçar
Tudo aquilo que senti

Eu que há apenas poucos dias
Pedia que chegasse uma paixão
- Ela veio, como teu poema disse que viria -
Me encontrei de novo forte, cheia de tesão
Empolgada como uma guria
De quinze anos, do perigo sem noção
Mas também frágil, vulnerável, que agonia!
Morrendo de medo de receber um não

Ainda estou assim: abasbacada
Como fica toda pessoa apaixonada
Sem saber se bem me quer ou mal me quis
Mas percebi que o desfecho importa quase nada
O que interessa é que agora… Agora mesmo, estou feliz

Joice Lima junho/2007.


Chega de branco no preto

Preciso de teus dedos entrelaçados
Nos meus dedos
Para esquecer meus medos
Nem que seja nesta noite
De céu estrelado

Preciso de teus dedos entrelaçados
No meu emaranhado de cabelos
Forte, bem apertado
– vai, atende meu apelo -
Para lembrar que estou viva
E que todos meus anseios
De mulher e de guria
Vão embora comigo um dia

Viver para o amanhã é loucura
Chega de branco no preto!
Deixa pra lá a doçura
Que agora eu quero o salgado
Sexo não precisa de nexo
Vem pra mim seco
Que eu te deixo molhado
Vamos correr por aí
Abrir espaço no hoje
Para o arco-íris do inesperado

Joice Lima março/2007

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Sarau foi show

Galera, o Sarau Literário que ocorreu ontem na Livraria Restaurante e Cyber Café Dom da Palavra foi show de bola. casa cheia e oito pessoas recitaram ou leram poemas de sua autoria ou de outros poetas. A triz Márcia Monks leu um poema meu (Chega de banco no preto), outro da Bruna Lombardi (Por que não?) e outro de Luiz Vaz de Camões (Amor é um fogo que arde sem se ver). A atriz Raquel Franz também leu um poema meu (Pés descalços) e outro da Adélia Prado (Briga no beco). O poeta Natanael Anasttacio, que pela primeira vez mostrava seu trabalho e os lia em público, leu Pai desconhecido e Excomungado, de autoria dele. Eulina Rodrigues recitou um poema de autoria dela e Kátia Reichow leu um texto de Miguel Falabela sobre a saudade. Eu, que acabei conduzindo o sarau porque o meu amigo Vidal se atrasou (acabava de chegar do Uruguai) também recitei cinco poemas meus (A beleza da poesia, Teu rosto, À procura, Pingo de tinta e Como disseste que viria), e se só não recitei mais porque acabou o repertório, hehe. O final de tarde foi muito gostoso e emocional - como não se emocionar em um um recital de poesia? - mas tenho que dizer que dois dos pontos altos foram as performances da bailarina e coreógrafa Berê Fuhro Souto, encima do poema No meio do caminho, do Carlos Drummond de Andrade e outras frases dele, e ainda a participação do ator Leon Franz, que fez uma performance a partir de um trecho de Hamlet, de William Shakespeare, "Ser ou não ser...". Uau!!! Com certeza estes dois atos vão incentivar outras performances nas próximas edições. Algumas pessoas tinham ido especialmente para o sarau, disseram que curtiram muito e prometeram retornar. Duas pessoas pediram alguns de meus poemas - fiquei lisonjeada! O sarau deixou um gostinho de quero mais. E haverá, com certeza... Aguardem.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Sarau Literário na Dom da Palavra

Terça-feira que vem, dia 15, das 19h às 21h, vamos fazer um Sarau Literário edição especial na Livraria, Restaurante e Cyber Café Dom da Palavra. Para quem não sabe, o sarau é um espaço para quem quiser recitar ou ler poesias de sua autoria ou de seus autores favoritos. Vale tudo. A Berê Fuhro Souto já confirmou presença com uma performance sobre pesquisa de movimento.
Espero contar também com a participação de minhas amigas atrizes Márcia Monks, Raquel Franz e Dany Mendiondo, entre amigos e parceiros do COP e do TEP. Vou aproveitar para recitar algumas das minhas "tentativas" de fazer poesia.

Aliás, aproveito o momento para comentar minha recente frustração na área. Participei do edital de um concurso de poesia realizado pela prefeitura de Pelotas, poucos meses atrás. De acordo com o edital, seriam escolhidos 30 trabalhos, entre os concorrentes, para o lançamento de uma antologia poética. Resulta que o corpo de jurados - composto, se não me equivoco, por três senhoras que já foram presidentes da Academia Pelotense de Letras - decidiu que apenas seis dos trabalhos inscritos eram dignos de publicação, abortando a idéia inicial da antologia porque "não havia trabalhos bons suficientes".
Eu me pergunto quais terão sido os critérios destas senhoras para chegar a esta conclusão, será que os poemas em questão não tinham "a métrica perfeita, feita como se fosse receita" ou "palavras rebuscadas, cuidadosamente escolhidas" (retirada do poema "A beleza da poesia", de minha autoria, que já está neste blog, mais abaixo).
Bueno, talvez os meus poemas sejam mesmo uma porcaria - não dá para julgar o próprio trabalho, seria muita pretensão minha achar que meu trabalho é bom - mas apenas seis dos inscritos tinham "qualidade literária"? A poesia é, no meu ponto de vista, um meio de comunicação para a gente expressar o que vai na alma e, com certeza, também deve ser lido com a alma. Um bom poema é aquele que comunica algo, que mexe, de alguma forma com quem o lê, ou somente tem "qualidade literária" o poema "quadradinho", por mais aborrecido e previsível que seja?
Depois as pessoas não entendem porque é cada vez mais reduzido o número de pessoas que participam destes editais.

Terça-feira que vem, então, será o "happy hour da revanche", ha ha. Um espaço aberto para as almas dizerem o que têm a dizer, sem sensura, sem barreiras. Lá na Dom da Palavra. Prestigie!!

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Alguns de meus poemas

À procura

Procuro um amor
Que encontre alegria no meu sorriso
Que seja um amante em brasa e, se preciso
Apenas um amigo, um apoio, um calor


Procuro um amor
Que saiba rir de seus próprios fracassos
E por mais que seja um saco
Me deixe chorar, quando preciso for

Procuro um amor
Que penteie meus cabelos
Massageie meus pés
Mas também me surpreenda!
Por vezes ouça meus apelos
Outras, não os atenda
Que seja ora meu escravo
Ora meu Senhor

Procuro um amor
Que me ajude das tragédias achar graça
A colocar cada coisa em seu lugar
Me recorde que cedo ou tarde tudo passa
Seja com sorte, seja com azar
Alguém que delimite o espaço da dor

Procuro um amor
Que me beije na boca em plena calçada
Segure minha mão no escuro do cinema
Sem ligar se é idéia ultrapassada
Não ache que romantismo é problema
O que vale é o que se sente, é o ardor

Procuro um amor
Que respeite meu lado pop, trash, canastrão
Me deixe assistir as previsíveis novelas
Sem sentir-se preterido por elas
Ria comigo dos famosos em confusão
Nas revistas de quinta, sem nenhum valor

Procuro um amor
Com quem tenha afinidades mas também diferenças
Que veja nelas um charme a mais, um aliado
E não defeitos a serem consertados
Que deseje a minha presença
Mesmo que eu tenha um olhar reprovador

Procuro um amor
Que na hora de dormir me abrace bem apertado
E deixe seus pés aos meus entrelaçados
Que este é um dos maiores baratos
De se ter um grande amor

Fevereiro/março 2007

A beleza da poesia

A beleza da poesia
Não está nos versos da escrita
Rimados com maestria
Nem na métrica perfeita
Feita como se fosse receita
Ou em palavras rebuscadas
Cuidadosamente escolhidas

O mais bonito de um poema
Está no jeito com que lida
Dilemas
E dramas da vida
Está, sobretudo, na coragem
Que o poeta tem que ter
De dar a cara pra bater
Na ousadia de ir fundo
Livrar-se das amarras, soltar a emoção
Ficar nu diante do mundo
Pra revelar o que vai no coração

11.10.2006 após um sarau literário na Dom da Palavra

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

A Cultura grita por socorro

Oi gente,
resolvi criar este espaço para que as pessoas que curtem as mais diversas expressões culturais e, assim como eu, estão aterrorizadas com o rumo que as coisas estão tomando, possam desafogar aqui suas mágoas e frustrações, trocar idéias e, quem sabe até, a gente possa reunir nossas forças e fazer algo de concreto para, se não curar a ferida, ao menos estancar a sangria que está correndo solta.
O que estou tentando dizer é:
*menos computadores, pesquisas e resumos prontos; mais livros, por favor!
Acordar para o prazer de pegar aquele amontoado de papel, folheá-lo, sentir o cheiro de papel novo ou velho, a delícia de viajar para outros mundos, desconhceidos, viver outras vidas que não as nossas... Visitar o fantástico mundo da fantasia e da imaginação. Mais literatura, menos internet, porfa.
*menos DVDs, mais cinema!
Eu sou consciente de que a concorrência é desleal. Hoje é possível comprar três DVDs piratas nos camelôs por R$ 10,00; é possível alugar filmes lançamento por R$ 1,50. E a entrada do cinema custa R$ 12,00 (meia R$ 6,00 para estudantes e alguns outros conveniados). Sem falar na comodidade de parar a fita para ir ao banheiro, preparar um lanche, atender o telefone, etc... Realmente, fica difícil... Mas gente, se as coisas continuarem como estão, muito em breve não haverá nem o Cine Art para contar a história. Aliás, depois do fechamento do Cine Capitólio em outubro passado, nada resta da história propriamente dita dos cinemas de Pelotas - houve uma época em que havia mais de 10 cinemas! alguns com várias salas de projeção... Oh saudade que dói...
*menos videogames, mais esportes! Acho que dispensa comentários.
Sem falar no meu amado teatro, cada vez mais abandonado (se isso épossível). Uma lástima constatar que a platéia anda bem escassa lá pelo Theatro Sete de Abril.
Alguém sofre das mesmas dores que eu? Sec manifeste, porfa.
Super abraço e bem-vindos a este espaço!