domingo, 11 de janeiro de 2009

À procura


Procuro um amor
Que encontre alegria no meu sorriso
Que seja um amante em brasa e, se preciso
Apenas um amigo, um apoio, um calor

Procuro um amor
Que saiba rir de seus próprios fracassos
E por mais que seja um saco
Me deixe chorar, quando preciso for

Procuro um amor
Que penteie meus cabelos
Massageie meus pés
Mas também me surpreenda!
Por vezes ouça meus apelos
Outras, não os atenda
Que seja ora meu escravo, ora meu senhor

Procuro um amor
Que me ajude das tragédias achar graça
A colocar cada coisa em seu lugar
Me recorde que cedo ou tarde tudo passa
Seja com sorte, seja com azar
Alguém que delimite o espaço da dor

Procuro um amor
Que me beije na boca em plena calçada
Segure minha mão no escuro do cinema
Sem ligar se é idéia ultrapassada
Não ache que romantismo é problema
O que importa é o que se sente, é o ardor

Procuro um amor
Que respeite meu lado pop, trash, canastrão
Me deixe assistir as previsíveis novelas
Sem sentir-se preterido por elas
Ria comigo das aventuras dos famosos em confusão
Contadas nas revistas de quinta, sem nenhum valor

Procuro um amor
Com quem tenha afinidades, mas também diferenças
Que veja nelas um charme a mais, um aliado
E não defeitos a serem consertados
Que deseje a minha presença
Mesmo que eu tenha um olhar reprovador

Procuro um amor
Que na hora de dormir me abrace bem apertado
E deixe seus pés aos meus entrelaçados
Que este é um dos maiores baratos
De se ter um grande amor

(Começou a ser escrito numa noite de trabalho, enquanto cobria o Carnaval de Rua de Pelotas na antiga Viação Férrea, em fevereiro de 2007; foi concluído algumas semanas mais tarde)

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Paquera de bar

Um entrecot na chapa
Um pouco de álcool no sangue
- sempre ajuda no arranque -
Ar de quem não quer nada
Parecendo divertida
Música anima a galera
Quem está de paquera?
Só estou aqui pela comida!

Mesas cheias
E um imenso vazio
Por que, se faz calor
Eu sinto tanto frio?

Fingindo estar a esmo
Todos procuram o mesmo
Mas se fecham num nó
Companhia, aceitação
Sentir-se amado
Terminar a noite só
É ter fracassado
Por que dói tanto a solidão?

Ah, minhas queridas
Se os homens pudessem imaginar
O poder de um olhar
Estaríamos perdidas

Os feios se torturam sem razão
Obcecados por beleza
Se olvidam, os pobres, que sedução
É uma destreza

Uma simples mirada
Pode jogar na cama
A mulher mais recatada
Que em certos casos nem reclama
Sequer, de ser atada

Uma mão na coxa
Sem convite, só um flerte
A ousadia vale mais
Que um par de olhos verdes

Me agarra com força
Que eu fico molhada
Não me fascinam os músculos
É a atitude que me deixa em brasa

Na areia da praia, de pé atrás da porta
No banco do carro ou no motel
A geografia do desfecho pouco importa
Mas, com certeza, o prazer foi todo meu

(Escrito em 28.06.2006)

Comentário sobre o livro veiculado no site A Metade Sul

"Uma Gaúcha em Madri", uma escritora entre nós
Tenho várias lembranças da Joice, entre as mais antigas estão as do tempo em que atuava no grupo de teatro do Cefet na montagem da peça Em Nome de Francisco, cujo tema é a vida e obra do poeta Lobo da Costa, com texto e montagem de Valter Sobreiro Júnior.Eu fazia a fotografia da peça e viajei com o grupo por várias cidades , inclusive Montevideo. Junto com o espetáculo ia minha exposição que entitulei Evocação do Poeta: Cena e Bastidores.
Uma lembrança bem recente é de uma noite no Dom da Palavra onde cheguei para conversar com o José Vidal e encontrei a Joice muito concentrada no recital de poesias que estava programado.Num dado momento foi até à frente, no local destinado aos músicos, e recitou algumas poesias, suas e de outros autores. Saiu-se bem pois além das poesias serem boas ela é atriz e tem controle da voz e dos gestos.
Mas, entre estes dois momentos, a surpresa que a Joice me preparou foi ter se revelado escritora.
Primeiro, impulsionada pela brisa que representou o José Vidal no campo editorial pelotense, teve publicado a novela Amor Doentio de Mãe.
E agora, bem recentemente, os relatos de viagem intitulados Uma Gaúcha em Madri.
Em pouco tempo, a atriz de teatro, a jornalista, a “aventureira”, já conquista um espaço numa área na qual não são tantos os que se lançam com a desenvoltura que ela demonstra.
(Texto de Paulo Renato Baptista, publicado no site dele www.ametadesul.com em 06.01.2009)

domingo, 4 de janeiro de 2009

O pingo de tinta

Um pingo de tinta preta
Cai numa folha em branco de papel
E as idéias que tinha na ponta da caneta
Ficam enuviadas, como envoltas em um véu

Por que foste aí cair, pingo maldito
E atrapalhar o meu "quase certo" escrito?
Estúpido acidente, erro horrendo
Que me fez perder a folha e o pensamento
Só te resta uma sentença: vais pro lixo!

Mas aí, assim do nada
Me surge uma idéia nova, inesperada:
O julgamento foi precipitado!
O ponto que ali se encerra
Não mostra o fim àquele que erra
Mas o vasto mundo do imprevisto a ser explorado

(Setembro/2006)